“A prisão me tirou a
liberdade, mas não os meus sonhos”: custodiada de Guaíba faz história ao
conquistar vaga em curso superior dentro da penitenciária
Por Rádio Conexão Web Rede
Guaíba 88,9 FM
Em meio aos muros altos, às
portas trancadas e à rotina silenciosa de uma penitenciária, nasceu uma
história que emociona, ensina e inspira. Nesta semana, a equipe da Rádio
Conexão Web Rede Guaíba 88,9 FM esteve na Penitenciária Feminina de Guaíba
para testemunhar um momento histórico: pela primeira vez, uma custodiada
conquistou o direito de cursar uma faculdade de dentro da prisão.
Vamos chamá-la de Fátima.
Mãe de cinco filhos, ela está privada de liberdade após ser presa transportando
drogas, um erro que ela reconhece com profunda dor e arrependimento. “Foi uma
escolha que destruiu muita coisa. Mas hoje eu entendo que posso reconstruir.
Não posso mudar o passado, mas posso escrever um futuro melhor”, nos disse com
os olhos cheios de emoção.
Fátima acaba de iniciar o curso
de Serviço Social, e a escolha da graduação não foi por acaso. Ela quer,
um dia, ajudar outras mulheres que passam pelo que ela passou. Seu objetivo é
claro: atuar dentro e fora das unidades prisionais, oferecendo apoio,
orientação e escuta às custodiadas que desejam mudar de vida.
“Quero ajudar outras mulheres a
acreditarem que elas também podem recomeçar. Aqui dentro tem muita dor
escondida, muita história difícil. Mas também tem vontade de viver diferente.
Eu quero ser alguém que estende a mão, que mostra um caminho”, contou.
A conquista é inédita na unidade
e foi fruto de esforço, bom comportamento e dedicação aos estudos. “Quando
recebi a resposta de que tinha conseguido a vaga, eu chorei tanto… não de
tristeza, mas de alívio, de alegria. Eu nunca imaginei que um dia ia poder
dizer que sou universitária.”
Fátima é a primeira mulher da
penitenciária a conseguir ingressar no ensino superior enquanto cumpre
pena. E agora, ela quer abrir portas para outras. Já está incentivando colegas
de cela a retomarem os estudos, a sonharem de novo. “A gente erra. Mas isso não
significa que estamos condenadas para sempre. Eu fui a primeira, mas não quero
ser a única.”
Além de abrir novas perspectivas
para o futuro, os estudos também contribuem para a redução da pena. Pela
legislação brasileira, a cada 12 horas de estudo, a pessoa privada de liberdade
tem direito a um dia a menos de pena. “Isso também me dá esperança. Saber que
estou usando o tempo aqui para mudar minha história e, ao mesmo tempo, poder
sair antes para viver com meus filhos de novo, é uma motivação muito grande”,
disse Fátima, com a voz embargada.
Durante a visita da nossa equipe,
o clima era de emoção e respeito. Servidores, educadores e outras custodiadas
pararam para ouvir a história de Fátima. Era impossível não se comover. Em cada
palavra dela, havia dor, mas também havia força e um desejo genuíno de
transformação.
A direção da penitenciária
celebrou a conquista com orgulho, reforçando que a educação é uma das mais
poderosas ferramentas de ressocialização. “Fátima está mostrando que mesmo
atrás das grades, é possível florescer. Ela nos lembra que ninguém é só o erro
que cometeu”, declarou uma das coordenadoras da unidade.
A história de Fátima é prova viva
de que a liberdade começa dentro da mente e do coração. Que é possível
reconstruir a autoestima, retomar sonhos e, acima de tudo, fazer diferente. Ela
ainda não sabe quando deixará a prisão mas já traçou um novo destino: ajudar
mulheres que, como ela, estão em busca de uma segunda chance.
E nós, da Rádio Conexão Web Rede Guaíba 88,9 FM, seguiremos contando essas histórias. Porque mesmo nos
lugares mais duros, a esperança ainda pode florescer.
A entrevista com Fátima foi
conduzida pelos apresentadores da Rádio Conexão Web, Jeferson Ismael e Alex Machado, que estiveram na penitenciária acompanhados pelo psicólogo da casa e
por representantes do Conselho da Comunidade. Todos testemunharam um momento de
grande emoção, transformação e inspiração.
Foto Ilustrativa