Em mais um capítulo decisivo do processo que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi alvo, nesta quinta-feira (18), de uma operação da Polícia Federal (PF) e teve medidas cautelares decretadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica.
A determinação foi emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga Bolsonaro e aliados por ações contra o Estado Democrático de Direito. A decisão se baseia em indícios de que o ex-presidente estaria articulando uma fuga do país, especialmente após o avanço das investigações e a proximidade do julgamento final, previsto para setembro deste ano.
Durante a operação, agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão na residência de Bolsonaro, em Brasília, e no diretório nacional do Partido Liberal. Foram apreendidos:
• US$ 14 mil em espécie
• R$ 8 mil
• Um pen-drive
• Documentos e um celular pessoal
Segundo investigadores, os materiais reforçam a suspeita de que o ex-presidente mantinha contatos estratégicos para articular um possível plano de fuga, incluindo negociações com diplomatas e acesso a sedes de embaixadas.
Além da tornozeleira eletrônica, Bolsonaro foi submetido a uma série de restrições:
• Toque de recolher: das 19h às 7h
• Proibição de utilizar redes sociais
• Proibição de manter contato com diplomatas
• Proibição de falar com seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro
• Impedimento de acessar representações diplomáticas
A decisão visa “garantir a ordem pública e a instrução processual”, segundo o despacho de Moraes.
Em declaração à imprensa, Bolsonaro afirmou que a medida representa “uma suprema humilhação” e voltou a negar qualquer envolvimento em tentativa de golpe ou intenção de deixar o país. “Sempre estive à disposição da Justiça. Essa perseguição ultrapassa qualquer limite democrático”, disse o ex-presidente.
No cenário internacional, o episódio gerou reações. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou uma nota em apoio a Bolsonaro, classificando o processo como “perseguição política” e “caça às bruxas”. Em retaliação, Trump anunciou que seu governo poderá aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O presidente Lula respondeu com firmeza, afirmando que “o Brasil não aceitará chantagem externa” e defendeu a independência do Judiciário.
O que está em jogo
A operação faz parte da “Operação Contragolpe”, deflagrada pela Polícia Federal no início de 2023, que investiga a suposta tentativa de anular o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva. O julgamento de Jair Bolsonaro pode levá-lo a uma condenação superior a 40 anos de prisão, por crimes como tentativa de golpe, associação criminosa, obstrução da Justiça e incitação ao crime.
A expectativa é de que o STF julgue o caso até setembro. Até lá, Bolsonaro seguirá monitorado por tornozeleira eletrônica e sujeito às demais restrições impostas pela Corte.