Justiça em dois pesos, duas medidas

Justiça em dois pesos, duas medidas

Justiça em dois pesos, duas medidas

Há muito se diz que a Justiça brasileira é cega. Mas, quando observamos o cenário que se desenha diante dos nossos olhos, é inevitável perguntar: cega para quem? Porque, ao que parece, ela enxerga com clareza quando o réu é comum, quando é pobre, quando ousa levantar a voz contra o Estado. Porém, misteriosamente, ela perde parte dessa visão quando quem está no banco dos acusados é alguém com influência, conexões e recursos para se defender.

Nos últimos anos acompanhamos a sucessão de episódios que reforçam essa percepção incômoda: réus milionários libertados rapidamente, empresários investigados por esquemas bilionários circulando livremente, figuras públicas envolvidas em suspeitas graves retornando à rotina com impressionante tranquilidade. Enquanto isso, manifestantes pessoas comuns que foram às ruas expressar indignação, discordância, crítica muitas vezes viram o direito constitucional à livre expressão transformar-se em prisão, processo e silêncio forçado.

Esse contraste não é apenas injusto. Ele é perigoso. Porque quando a Justiça se torna seletiva, ela deixa de ser Justiça e passa a ser privilégio. Quando a liberdade de alguns pesa mais do que a voz de muitos, cria-se um país dividido não apenas socialmente, mas juridicamente. Dois Brasis coexistem: o Brasil dos que têm garantias e o Brasil dos que apenas têm esperança.

E esperança, quando se frustra repetidamente, transforma-se em descrédito. Torna-se desconfiança. Alimenta revolta.

Não há democracia sólida onde o cidadão sente que sua voz vale menos do que a conta bancária de um réu. Não há credibilidade institucional onde decisões parecem favorecer sempre os mesmos e punir seletivamente aqueles que ousam discordar. O que se espera de um sistema justo é, sobretudo, equilíbrio e equilíbrio não existe quando a balança pesa conforme o rosto de quem está diante dela.

Este país não carece apenas de reformas econômicas ou políticas. Carece de uma reforma moral da Justiça aquela que garanta que a lei é a mesma para todos, que o direito à manifestação não seja tratado como crime, que o poder econômico não compre liberdade e que o cidadão não seja punido por desejar ser ouvido.

Porque um país onde corruptos caminham soltos, enquanto manifestantes são algemados, não está apenas errando juridicamente. Está ferindo a alma democrática de sua própria existência.

O Brasil precisa de Justiça. Não de justiças. Uma só igual, íntegra, incorruptível.
Somente assim deixaremos de enxergar dois pesos, duas medidas e passaremos a ver, enfim, um país que trata seus filhos com a mesma régua, o mesmo rigor e o mesmo direito.

Justiça em dois pesos, duas medidas

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